domingo, 9 de setembro de 2012

A LÍNGUA HUMANA


A língua humana é o instrumento mais contundente que o homem possui, ou seja, é com ela que ele cria o céu e o inferno ao mesmo tempo; fica triste, alegre, com raiva, com medo, atemorizado, esperançoso, vaidoso, humilde, forte no espírito e/ou fraco de alma.
Um provérbio popular diz que a língua é o chicote do corpo e também da alma. É verdade. Muitas pessoas por não refrearem seu palavreado, pagaram com o sofrimento do corpo, com torturas, tormentos e até com a morte. No plano anímico (relativo à alma), também não é diferente: elas sofrem angústia, mágoas e tormentos de toda a espécie, quando a língua não tem limites e utiliza a calúnia, a difamação, o insulto e a mentira.
A língua é um verdadeiro tormento para pessoas (embora elas não saibam disso) tagarelas que adoram ‘falar pelos cotovelos’. Que são agressivas, transtornadas e perdem a calma por motivos fúteis, posto que, esses tipos de conduta afligem seu espírito (delas) e também o nosso.
 Com relação à língua, o poema Desiderata nos ensina uma frase lapidar: ‘Fale a sua verdade, mansa e claramente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes, eles também têm sua própria história’. Pelo mau uso da língua também já advertia Paracelso, filósofo, cientista, médico e vidente:
 ‘Fugir como da peste, ao trato com pessoas maldizentes, invejosas, indolentes, intrigantes, vaidosas ou vulgares e inferiores pela natural baixeza de entendimentos ou pelos assuntos sensualistas, que são a base de suas conversas ou reflexos dos seus hábitos’.
O emprego indevido da língua já criou expressões (algumas conhecidas, outras nem tanto), tais como língua viperina, língua-suja, linguareiro (linguarudo), solto de língua, língua de palmo (língua afiada), dar com a língua nos dentes.
Ainda: língua de trapo, língua de prata, língua comprida, língua de sogra, dar à língua, engolir a língua, língua-de-badalo, pagar pela língua, estar com a língua coçando e ter a língua maior que o corpo.
 Isso nos recorda certo escritor brasileiro, cujo nome não nos acode à memória, haver escrito questionando qual seria a arma mais poderosa e devastadora no mundo: a nossa própria língua. Nosso conto semanal reforça essas idéias: Por volta do ano 2000 antes de Cristo, um mercador grego, rico, queria dar um banquete com comidas especiais. Chamou seu escravo e ordenou-lhe que fosse ao mercado comprar a melhor iguaria.
O escravo voltou com um belo prato, coberto com um fino pano. O mercador removeu o pano e assustado disse: – Língua? Este é o prato mais delicioso? O escravo, sem levantar a cabeça, respondeu: – A língua é o prato mais delicioso, sim senhor. É com a língua que você pede água, diz ‘mamãe’, faz amizades, conhece pessoas, distribui seus bens, perdoa.
Com a língua você conquista, reúne as pessoas, se comunica, diz ‘meu Deus’, reza, canta, conta histórias, guarda a memória do passado, faz negócios, diz ‘eu te amo’. O mercador, não muito convencido, quis testar a sabedoria do seu escravo e o enviou novamente ao mercado, ordenando-lhe que trouxesse o pior dos alimentos.
Voltou o escravo com um lindo prato, coberto por fino tecido, que o mercador retirou, ansioso, para conhecer o alimento mais repugnante. – Língua, outra vez!, diz o mercador, espantado. – Sim, língua, diz o escravo, agora mais altivo. É a língua que condena, separa, provoca intrigas e ciúmes. É com ela que você blasfema e manda para o inferno.
 A língua expulsa, isola, engana o irmão, responde para a mãe, xinga o pai... A língua declara guerra! É com ela que você pronuncia a sentença de morte. Moral da história: não há nada pior que a língua, não há nada melhor que a língua. Depende do uso que se faz dela.


Richard Zajaczkowski, bacharel em Direito,
Oficial de Justiça – Vara do Trabalho, jornalista
e membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão



Nenhum comentário:

Postar um comentário