sábado, 18 de agosto de 2012

LEANDRO, PARTISTE ANTES


Já dissemos nesta coluna e tornaremos a repetir que nesta vida somente duas coisas são certas: os impostos e a morte. Os primeiros, nos empurram goela abaixo, desde os memoriais tempos áulicos dos césares.
A segunda, nos surpreende pelas costas, porque cara-a-cara, nenhum de nós tem coragem de enfrentar, mormente quando mal estamos iniciando este alento que chamamos de vida. De repente, o cordão de prata se rompe e mil e um planos desvanecem no ar como se castelos de fumaça fossem.
Sonhos recém-construídos partiram-se feito cristais atingidos por notas ultra-sonoras, como gongos a soarem os últimos segundos desta nossa existência. Parentes, amigos e conhecidos, boquiabertos e estupefatos ainda se questionam como o fado pode ser tão adverso para alguém que principia o sopro da essência, com a alma entulhada de quimeras.
Embora em nossas mentes turbilhonem dezenas de teorias religiosas, acerca do local para aonde vamos e o que iremos fazer, a verdade é que jamais saberemos com absoluta certeza como é o outro lado de lá, senão, quando a nossa vez chegar. Então, não teremos mais dúvidas, porque ao morrer neste mundo, estaremos nascendo no outro, conforme nos ensinam algumas filosofias espírito-orientais.
Leandro, a tua brusca e inopina partida, nos moldes, semelhante à daquela de alguém que sem se despedir direito, de afogadilho, teve que ajeitar as vestes anímicas, utilizando-se da psicografia para tranqüilizar seus entes queridos. Arvoramo-nos em extrair excertos da epístola, cuja credibilidade pode ou não residir no foro íntimo de cada um de nós.    
Um ano é decorrido desde que me despi da roupagem carnal. Ano de intensas lutas para quem não estava preparado para enfrentar a realidade da vida de além-túmulo. (...) Ano de estudos adiantados na grande Universidade da vida eterna. Estudos, sobretudo, práticos, profunda e essencialmente objetivos, onde aprendemos a nos orientar segundo os princípios fundamentais das leis imutáveis e eternas do Criador.
Estudos que principiam pelo aprendizado do próprio eu, com a análise dos sentimentos do próprio coração. Estudos despidos do caráter transitório das teorias humanas, construídas sobre as opiniões da maioria, que sempre vence no meio humano.
(...) A verdadeira felicidade não existe aí na terra, embora possamos ter tudo o que os nossos sentidos almejem. A felicidade absoluta, só a desfrutam aqueles que vencem a batalha do próprio aperfeiçoamento numa luta constante pelo aprimoramento de seus sentimentos mais íntimos.
 Por tudo isso, Leandro, acreditamos que a senda do teu caminho continuará, desta feita, em páramos mais elevados, menos densos e mais sutis. A natureza abnegada de teu comportamento, certamente far-te-á galgar com sucesso os degraus anímicos na escalada espiritual, não importa em qual patamar estiveres.
Apenas, lembra-te disto: se foste abruptamente arrancado do seio da terra-mãe, é porque desígnios superiores motivaram a tua presença no andar superior, querendo a continuidade benevolente do teu incansável trabalho, assim como nós, egoisticamente gostaríamos que tu viesses a envelhecer conosco.

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