quinta-feira, 16 de agosto de 2012

OS RECLAMANTES


Quando não nos sentimos bem em qualquer situação, temos por hábito exigir prestação de contas, ou seja, reclamamos. É da natureza humana esse tipo de comportamento. Todavia, há reclamações que procedem e outras que são totalmente infundadas, sem razão de ser.
Na maioria das vezes, o ser humano reclama simplesmente pelo ato de fazê-lo, ou seja, como é de sua natureza observar as coisas que no fundo não são de seu agrado, ao invés de modificar sua atitude pela ação, ele vai pelo caminho mais fácil: faz uso da palavra, da crítica e da reclamação.
A crítica é sempre construtiva quando numa determinada situação, como no trabalho, alguém nos exige labor sobre-humano, além das nossas capacidades físicas; quando trabalhamos feitos escravos, sem o correspondente pagamento; quando laboramos em ambiente nocivo à nossa saúde e, quando trabalhamos sob ordens autoritárias, que nos causam vexame e humilhação.
Por outro lado, a crítica é sempre destrutiva quando de livre e espontânea vontade aceitamos determinada situação. Ausentes as motivações retro mencionadas, não há justificativas para reclamarmos, mas se continuamos a fazê-lo, então é porque não temos nenhuma consideração pelo valor e bem-estar daquilo que conquistamos.
Costumam nos dizer quando fazemos parte de um determinado grupo, seja ele recreativo, social ou de trabalho, que se não estamos satisfeitos, nada nos impede de abandoná-lo. Se não podemos mudar uma situação, somente há duas saídas: ou nos adaptamos ou abandonamos as atividades e procuramos algo que sob a nossa ótica, sirva aos propósitos.
Mas, parece que fazemos pelo lado mais fácil e cômodo: gostamos de reclamar, criticar. É um meio nada prático, pois não resolve. Vem apenas demonstrar o quanto adoramos o comodismo, consubstanciado  na frase ‘falar é fácil, difícil é fazer.’ As pessoas que gostam de reclamar, se refletissem um pouco sobre a situação pior de seus semelhantes, se envergonhariam dessa atitude.
Algumas, ainda que em situação extrema, mesmo assim persistem em resmungar, como no caso da presente história: Um monge vive em um mosteiro, onde tem de fazer voto de silêncio. Ele só pode dizer duas palavras a cada década. A rotina diária do monge consiste em levantar às 3h30min da manhã, de uma cama que não é mais do que uma prancha de madeira, rezar durante horas a fio, ajoelhado em um chão de pedra, e copiar bíblias à mão.
O monge segue essa rotina dia após dia, durante dez anos, sem dizer uma só palavra. Um dia, o abade chama o monge e lhe concede permissão para pronunciar suas duas palavras. O monge olha para o abade com os olhos cansados e diz: – Cama dura. Depois de dizer isso, o monge volta à sua labuta, levantando às 3h30min, rezando, comendo uma papa sem gosto, copiando bíblias e dormindo em uma cama que não passa de uma prancha de madeira.
Passa-se mais um ano. E outro. Passam-se mais cinco. E mais dez. Depois de vinte anos nessa rotina imutável, o monge é novamente convocado pelo abade, que lhe concede permissão para dizer mais duas palavras. Sem hesitar, o monge murmura: – Comida pavorosa. E volta à sua triste rotina.
Depois de mais uma década de silêncio, despertando antes do nascer do sol, comendo papas sem gosto, fazendo cópias, rezando e dormindo sem descansar sobre uma prancha de madeira, o monge novamente vai até o abade para dizer suas duas palavras. O monge encurvado, cansado e frágil, levanta os olhos para o abade e diz: – Eu desisto. O abade retruca: – Ótimo! Você só faz reclamar desde que chegou aqui. Moral da história: não importa o local no qual estamos, há momentos em que as palavras são desnecessárias.









Nenhum comentário:

Postar um comentário