Não sabemos bem por que, mas a verdade é que o ser humano é egoísta por excelência, ou seja, sempre quando ocorre o dever cívico e moral de repartir alguma coisa, seja dinheiro, bens materiais, amor, afeto, atenção, ele como por uma espécie de reflexo condicionado, antes pensa em si mesmo.
Às vezes ficamos imaginando: se a criatura humana é tão avarenta e perversa com a sua própria raça, é de causar pena as atribulações pelas quais passam os animais, mormente, os domésticos que na realidade são os nossos verdadeiros amigos, e que não exigem nada de nós e somente nos dão carinho.
É bem verdade quando dizem que a amizade não tem preço. Mas esta não se conquista com posição social, com imensas fortunas ou com elevados cargos nas profissões. A amizade se fortalece e ganha maior força pela nobreza de caráter, pela simplicidade, pela confiança, pela honestidade e pela fidelidade.
Quem não possuir esses requisitos, dificilmente terá amigos sinceros, ou será correto para com os outros. Primeiro, porque a amizade não busca interesses, quaisquer que sejam a natureza deles; e segundo, porque ela anseia pela auto-entrega da pessoa sem medir sacrifícios para que o amigo não sofra e seja feliz. Este é o desiderato da verdadeira amizade.
O que ultrapassar disso, poderá ser conveniência favorável às partes, que possivelmente romperá as amarras daquelas pessoas que se dizem amigas entre si, no primeiro sopro do furacão das dificuldades anímico-materiais de cada um. Nossa história semanal mostra que por muito menos o homem vai para o inferno:
“Um homem, seu cavalo e seu cão, caminhavam por uma estrada. Depois de muito caminhar, esse homem se deu conta de que ele, seu cavalo e seu cão haviam morrido num acidente. Às vezes, os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição... A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede.
Precisavam desesperadamente de água. Numa curva do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina. O caminhante dirigiu-se ao homem que numa guarita, guardava a entrada. – Bom dia, ele disse. – Bom dia, respondeu o homem. – Que lugar é este, tão lindo? Ele perguntou. – Isto aqui é o céu, foi a resposta.
– Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede, disse o homem. – O senhor pode entrar e beber água à vontade, disse o guarda, indicando-lhe a fonte. – Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede. – Lamento muito, disse o guarda. Aqui não se permite a entrada de animais. O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande.
Mas ele não beberia, deixando seus animais com sede. Assim, prosseguiu seu caminho. Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço multiplicados, ele chegou a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha semi-aberta. A mesma se abria para um caminho de terra, com árvores dos dois lados que lhe faziam sombra.
À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, parecia que estava dormindo. – Bom dia, disse o caminhante. – Bom dia, disse o homem. – Estamos com muita sede, eu, meu cavalo e meu cachorro. – Há uma fonte naquelas pedras, disse o homem indicando o lugar. Podem beber à vontade.
O homem, o cavalo e o cachorro foram até à fonte e mataram a sede. – Muito obrigado, ele disse ao sair. – Voltem quando quiserem, respondeu o homem. – A propósito, disse o caminhante, qual é o nome deste lugar? – Céu, respondeu o homem. – Céu? Mas o homem na guarita ao lado do portão de mármore disse que lá era o céu!
– Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno. O caminhante ficou perplexo. – Mas então, disse ele, essa informação falsa deve causar grandes confusões. – De forma alguma, respondeu o homem. Na verdade, eles nos fazem um grande favor, porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos...”. Moral da história: não sabemos muito bem o que nos aguarda no outro lado da vida, mas uma coisa podemos esperar: receber o mesmo tratamento que dispensamos aqui
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